quinta-feira, 6 de maio de 2010

A Verdade (Carlos Drummond de Andrade)


A Verdade (Carlos Drummond de Andrade)



A porta da verdade estava aberta,


Mas só deixava passar


Meia pessoa de cada vez.


Assim não era possível atingir toda a verdade,


Porque a meia pessoa que entrava


Só trazia o perfil de meia verdade,


E a sua segunda metade


Voltava igualmente com meios perfis


E os meios perfis não coincidiam verdade...


Arrebentaram a porta.


Derrubaram a porta,


Chegaram ao lugar luminoso


Onde a verdade esplendia seus fogos.


Era dividida em metades


Diferentes uma da outra.


Chegou-se a discutir qual


a metade mais bela.


Nenhuma das duas era totalmente bela


E carecia optar.


Cada um optou conforme


Seu capricho,


sua ilusão,


sua miopia.

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